O sexismo é algo que muitas vezes parece impossível de evitar, mesmo quando as mulheres se colocam em posições de poder evidentes, como no caso das relações de dominação feminina (FemDom).
Muitos criticam o BDSM, especialmente a dinâmica onde a mulher é submissa e o homem é dominante, afirmando que isso reforça a cultura patriarcal. Há um fundo de verdade nisso, pois, em grande parte da pornografia mainstream, a mulher costuma ser a submissa e o homem, o dominante.
Mas e quanto à imagem da Dominatrix? Aquela figura vestida de couro, com chicote ou vara na mão, cercada por homens que adoram seus pés? Esta imagem é o completo oposto da mulher submissa, mas, ainda assim, está profundamente enraizada no mesmo sexismo que afeta todas as mulheres.
Aqui estão três maneiras pelas quais o sexismo ainda se infiltra nas relações FemDom:
1. Mulheres Dominantes Ainda São Vistas Como “Dispenser” de Sexo
Em sites voltados para o BDSM, como o Fetlife, é comum que algumas pessoas abordem mulheres como se elas fossem dispensadoras automáticas de sexo. A ideia de que “esta mulher está em um site de sexo, então ela deve querer sexo” é um problema recorrente. Essas abordagens são, na maioria das vezes, superficiais e ignoram completamente a pessoa por trás do perfil.
Mulheres dominantes recebem muitas ofertas, mas essas ofertas são muitas vezes formuladas de maneira diferente. Em vez de serem abordadas de maneira rude, como “Ei, vadia, adoro dar palmadas e foder submissas”, elas recebem mensagens polidas, mas com o mesmo conteúdo essencial:
“Minha Senhora, gostaria de me submeter aos seus desejos, pois a considero incrível e gostaria de lhe servir. Adoro práticas como spanking, bootlicking e chastity.”
No final das contas, essas mensagens, embora aparentemente respeitosas, ainda giram em torno da ideia de que a mulher dominante está lá para atender aos fetiches de quem a aborda, sem qualquer consideração pelo que ela realmente quer ou gosta.
2. Mulheres Dominantes São Vistas Como Intercambiáveis
Se você frequentar fóruns dedicados à dominação feminina, verá um lamento comum: “Há tantos homens submissos e não suficientes mulheres dominantes!”
Geralmente, são os homens que escrevem essas queixas, reclamando que não conseguem encontrar uma mulher dominante para ter relações. Para esses homens, a mulher dominante não é vista como uma pessoa única, mas sim como um corpo intercambiável que pode preencher a fantasia de “mulher dominante”. Ela é objetificada, porque todas as mulheres são, de certa forma, objetificadas.
Essa objetificação é visível não apenas online, mas também em eventos de BDSM. Submissos masculinos novatos muitas vezes vão a festas de BDSM esperando simplesmente se ajoelhar aos pés de alguma (leia-se qualquer) mulher dominante, esperando que ela faça uma cena com eles. Para eles, um evento kink é basicamente um filme pornô ao vivo.
3. Mulheres Dominantes “Deveriam” Namorar Eles Porque São Submissos
Isso nos leva a outra forma de sexismo que mulheres dominantes enfrentam ao buscar parceiros: o “Síndrome do Submisso Legal”.
Esses indivíduos adaptaram o discurso do “cara legal” a partir de uma perspectiva submissa. Eles acreditam que as mulheres dominantes devem cenas e atenção a eles simplesmente porque se aproximaram oferecendo sua submissão absoluta e eterna. Assim como os “caras legais” que acreditam ser melhores do que os “idiotas” que outras garotas namoram, esses homens submissos proclamam que sua submissão é muito mais pura e genuína do que a dos outros homens, que não são realmente submissos.
Mas, no fundo, eles esperam que a mulher dominante atenda a todas as suas necessidades, enquanto fingem que estão lá para servi-la.
Não Podemos Escapar do Sexismo
Se a experiência das minhas amigas dominantes serve de indicação, as mulheres dominantes têm que viver em um mundo onde os homens as veem como dispensadoras de sexo intercambiáveis. Elas são extremamente fetichizadas; em alguns aspectos, até mais do que as submissas. Seu poder é distorcido, vestido em botas de couro e espartilhos, e embalado para o consumo dos homens. Quando chega a hora de encontrar relacionamentos reais e satisfatórios, elas têm que lutar contra estereótipos que são muitas vezes mais restritivos do que aqueles que cercam a submissão feminina. Infelizmente, ser uma mulher sexualmente dominante não a liberta do sexismo.